Quando entrei nessa instituição já me apaixonei de cara por toda a proposta social que ela carrega e com o tempo essa paixão só foi aumentando, principalmente quando percebi que eu tinha a oportunidade de aproximar adolescentes da leitura e escrita. Ministrei alguns módulos e identifiquei que em algum momento eu poderia pedir um trabalho de conclusão diferente. Fui amadurecendo a ideia e apresentei a turma que a abraçou desde o primeiro momento, então é claro que o mérito pelo trabalho ter dado tão certo tem tudo a ver com a dedicação dos aprendizes.

Eles deram ideias, falaram sobre os escritores, mostraram os trechos dos livros que mais os deixaram impactados. Demonstrando um interesse genuíno pela literatura. Isso fez toda a diferença para que eu quisesse ainda mais que o trabalho fosse especial e que eles sentissem a importância dos gêneros literários para a ampliação da visão de mundo de cada um deles. Por isso, a ideia de criar um mural de escritores brasileiros e estrangeiros para decorar nosso ambiente ajudou bastante a criar o clima do projeto.

O tempo todo minha intenção era proporcionar a experiência de catarse, de transformação de pensamento, de descobertas internas e também de outros “mundos” distantes e próximos da nossa realidade.

Assim ocorreu quando os jovens conheceram um pouco mais sobre o livro Quarto de despejo de Maria Carolina de Jesus, a primeira escritora negra a ser publicada no Brasil, sendo uma catadora de papel que pouco frequentou a escola, mas que por amar a leitura, os livros e a escrita , conseguiu ser muito letrada. Saber da história dela deixou os aprendizes interessados e alguns quiserem ler todo o diário da escritora. Além disso, o trabalho contribuiu para aproximá-los de obras da literatura universal como a de Dom Quixote, Madame Bovary, poemas e contos de Allan Poe, entre outros; também tiveram contato com obras brasileiras famosas, mas que pouco sabiam a respeito da autoria por trás delas, como a do dramaturgo Ariano Suassuna, autor de O auto da compadecida e o escritor Luís Fernando Veríssimo que possui uma linguagem engraçada e contos curtos que proporcionaram uma maior aproximação com os adolescentes mais resistentes à leitura.

Os aprendizes perceberam que há diversos gêneros e que, com certeza há algum que tornará o momento deles com o livro prazeroso e não algo cansativo e obrigatório. Aprenderam criando varal de histórias para falar de romances, calendário poético, teatro de sombras, diários e dados de narrativas fantásticas. Como professora, receber essa troca dos aprendizes foi demais! Confesso, fiquei bastante emocionada devido ao empenho e dedicação deles.

O projeto foi finalizado e concluído com sucesso, mas sei que o legado que ele deixou ainda inspira a mim e aos aprendizes a enxergar o texto literário com mais interesse. Há uma frase de Clarice Lispector que gosto muito: “Há a impossibilidade de ser além do que se é, no entanto, eu me ultrapasso”. Essa é minha função como educadora, mostrar que apesar das nossas limitações reais e que não podem ser ignoradas, ainda assim podemos nos ultrapassar, criando outras possibilidades.

Só posso agradecer. Com certeza um projeto que marcou minha vida ao ver que eles realmente gostaram, dias assim nos faz ter ainda mais certeza do porquê escolhemos a profissão. Gratidão aos adolescentes, à literatura e ao CAMP por possibilitar que trabalhos assim possam sair do campo das ideias tornando-se realidade.

 Texto por Intrutora Graziely Santana

 

 

Confira alguns clicks da apresentação do trabalho complementar da turma 06 do Programa de Aprendizagem de término de módulo de gêneros textuais. 📖💡

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