Como as novíssimas mídias têm alterado o comportamento de nossa sociedade.

Para entender o que é moderno, primeiro precisamos entender o que desencadeou a modernidade. Muitos de nós nos referimos à algo moderno como uma coisa atual, tecnológica, inovadora e que está em alta no momento, porém essas novidades se encaixam no contexto contemporâneo, onde pertence ao tempo atual.

Voltando um pouco na história, junto com a Revolução Industrial, lá no século XIX, surgiram grandes inovações e manifestações políticas e artísticas que mudariam o homem social e culturalmente, como novas descobertas científicas e tecnológicas, onde o homem pôde começar a explorar outros sentidos, como por exemplo o surgimento da fotografia, optando em registrar momentos significativos ao invés de representações em quadros estáticos e quando não, ousando na forma de expressar suas ideias, surgindo novos movimentos artísticos, apoiados em grandes mestres da arte como Pablo Picasso, Marcel Duchamp entre outros.

“Les Demoiselles d’Avignon” – Pablo Picasso. Foi o criador do movimento estético Cubismo.

“Fountain” – Marcel Duchamp. Não obra do movimento ready made.

“Os dois pintores que exerceram maior influência sobre o século XX foram Pablo Picasso e Marcel Duchamp: o primeiro pelas suas obras, o segundo por uma obra que é a própria negação da moderna noção de obra.” (Otávi Paz – ensaísta mexicano)

Além da fotografia, vimos também o surgimento da televisão e do cinema que trouxeram novas perspectivas de mundo para a sociedade, utilizando o conceito da cultura de massas que, a partir de fenômenos industriais, apresentava a vida do homem moderno como uma simulação de sua realidade, criando um consenso informal de cultura e comportamento que transformaria o cotidiano do homem moderno, trazendo a sensação de que o tempo não mais lhe pertencia.  O cinema hollywoodiano já foi criticado diversas vezes pelo seu modelo de indústria cultural, feita sob medida por quem o financia. Por esse motivo, é considerada, muitas vezes, alienante, deixando a pergunta: a arte sobrevive à cultura de massa?!

Da mesma forma, a cultura de massa irá reinventar o uso da imagem e da escrita, desconstruindo padrões pré estabelecidos de diagramação, discurso, linguística, ampliando as possibilidades de comunicação das mídias, tornando-as multifuncionais.

“Agora tudo indica que o livro em sua forma tradicional encaminha-se para o seu fim (…). A escrita, que tinha encontrado asilo no livro impresso, para onde carreara o seu destino autônomo, viu-se inexoravelmente lançada à rua, arrastada pelos reclames, submetida à brutal heteronomia do caos econômico. Eis o árduo currículo escolar da nova forma e antes que um contemporâneo chegue a abrir um livro, terá desabado sobre seus olhos um turbilhão tão denso de letras móveis, coloridas, litigantes, que as chances de adentramento no arcaico estilo do livro já estarão reduzidas a um mínimo. Nuvens de letras — gafanhotos, que já hoje obscurece o sol do suposto espírito dos habitantes das metrópoles, tornar-se-ão cada vez mais espessos, com a sucessão dos anos.” (Walter Benjamin in Uma Profecia de Walter Benjamin: Einbahnstrasse, 1928)

As expressões verbivocovisuais (verbal – vocal – visual) agora fazem parte da modernidade e pós-modernidade, onde nos encontramos em meio a novíssimas mídias como as redes sociais, que nos oferecem o visual, o verbal e o sonoro ao mesmo tempo. Tudo isso só vem para provar que a percepção de realidade mudou, e com isso, também mudam as representações. Inúmeras misturas e desdobramentos que resultam em complexas modalidades híbridas que formam a cultura contemporânea.

As linguagens verbais e não verbais formam o que hoje é comum para nós, que acessamos todos os dias a internet enquanto assistimos televisão e conversamos pelo WhatsApp. Tudo isso se tornou uma enxurrada de ícones e signos que são reconhecidos facilmente pela nossa mente, acostumada à essa nova cultura. As novíssimas mídias trazem desafios aos profissionais de marketing e publicidade, que vêm percebendo que precisam atingir o consumidor de novas formas, mais abrangentes e diretas, através de anúncios que provocam sensações. Uma outra consequência desse emaranhado de informações, onde a propaganda precisa chegar no momento certo para que seja interpretada, ou senão cairá em um limbo e será facilmente descartada pelo receptor.

Hoje, quando utilizamos o Waze (aplicativo de GPS), ele nos oferece produtos e serviços que estão próximos a nós. Quando acessamos qualquer site, as propagandas nos oferecem itens que buscamos anteriormente. Essa é a realidade do homem contemporâneo, que vem mudando sua percepção de mundo muito rapidamente e passando por transformações científicas e tecnológicas que atingem nossa sociedade diariamente, recriando o modo de agir, pensar, ler, entender e interpretar tudo que está ao nosso redor.

A linguagem é simplesmente um recurso de comunicação próprio do homem, que evoluiu desde sua forma auditiva, pura e primitiva, até a capacidade de ler e escrever (…) à criação de imagens, no passado uma prerrogativa exclusiva do artista talentoso e instruído, mas hoje, graças às incríveis possibilidades da câmera, uma opção para qualquer pessoa interessada em aprender um reduzido número de regras mecânicas. (…) O advento da câmera é um acontecimento comparável ao do livro, que originalmente beneficiou o alfabetismo (…) A força cultural e universal do cinema, da fotografia e televisão na configuração da autoimagem do homem, dá a medida da urgência do ensino da alfabetização visual, tanto para os comunicadores, quanto para aqueles aos quais a comunicação se dirige. Em 1935, Moholy-Nagy, o brilhante professor da Bauhaus, disse: ‘Os iletrados do futuro vão ignorar tanto o uso da caneta quanto o da câmera.’ O futuro é agora.” (Donis A. Dondis – Sintaxe da Linguagem Visual)

Quais serão os próximos capítulos dessa história?

Rackel Rotondo

Colunista da Revista CAMP SBC e Colégio CAMP. Graduada em Relações Públicas e pós graduada em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada. Assistente de Comunicação no CAMP SBC.

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